/governosp
As fotos que fazem parte da mostra “Pierre Verger: Um Olhar sobre Buenos Aires” nunca foram vistas em conjunto. É portanto uma estréia mundial, a exposição que a Fundação Memorial da América Latina inaugura no dia 14 de abril, às 19h. Trata-se de fotos publicadas por Pierre Verger em periódicos argentinos no início dos anos 40, como a imagem à esquerda, flagrante de um fotógrafo lambe-lambe portenho. Era o período em que o fotógrafo francês (1902 – 1996) cruzava o planeta, afinando o olhar de “etnólogo amador” que o faria respeitado e admirado no meio antropológico mundial.
Na abertura da exposição haverá um bate-papo com o curador Fernando de Tacca, fotógrafo, antropólogo visual e editor da revista eletrônica Studium (http://www.studium.iar.unicamp.br), que no mesmo dia coloca on line número especial sobre a exposição, a passagem pela Argentina e a carreira de Pierre Verger.
“Pierre Verger: Um Olhar sobre Buenos Aires” (na foto à direita, um artesão portenho em seu ateliê) é resultado do projeto concebido por Fernando de Tacca na época em que ele assumiu a Cátedra de Estudos Brasileiros na Universidade de Buenos Aires, em 2004. Foi quando descobriu que Pierre Verger havia publicado imagens no jornal Argentina Libre, fundado por espanhóis republicanos exilados nesse país, no final dos anos 30, depois da vitória de Franco, publicação essa que integrava a frente ampla anti-nazifacista Acción Argentina, por ocasião da Segunda Guerra Mundial. E também na revista de variedades Mundo Argentino, na qual Verger publicou fotorreportagens sobre temas da cultura portenha.
Com o apoio da Fundação Pierre Verger (http://pierreverger.org), a exposição é constituída de 30 fotografias originais, ampliadas em papel fibra especialmente para a mostra. Também serão expostas reproduções das páginas originais onde elas foram expostas. Mas tarde, todas essas imagens formarão um livro. Depois do Memorial da América Latina, a mostra torna-se itinerante, começando por Buenos Aires.
Quem comparecer ao bate-papo vai na certa ouvir as peripécias do professor Fernando de Tacca, até localizar os arquivos com as imagens raras.Graduado em Ciências Sociais (USP, 1981), mestre em Multimeios (Unicamp, 1990) e doutor em Antropologia (USP,1999), Tacca é professor Livre Docente no Departamento de Multimeios, Mídia & Comunicação do Instituto de Artes da Unicamp, onde é responsável pelas disciplinas "História da Fotografia" e "Antropologia da Imagem", do curso de Midialogia.
Pierre Verger cruzou o planeta várias vezes, a partir de 1932, sempre com a sua rolleiflex em punho, até chegar ao Brasil, mais especificamente, à Bahia, em 1946. Teria se apaixonado pela Bahia lendo “Jubiabá”, de Jorge Amado. Aqui decidiu ficar e focar suas pesquisas na cultura afro-brasileira. Foi à África várias vezes para beber da fonte, estudou e iluminou como ninguém o fluxo e refluxo cultural, religioso e comercial da África com o Brasil e vice-versa.
Primeiros Passos – Breve Introdução
"Pierre Verger começou a fotografar no ano de 1932, então com 30 anos de idade, quando troca objetos herdados de família por uma Rolleiflex e segue em viagens de turismo pelo sul da França, na ilha de Córsega, e em seguida pelo Taiti. Percorre 1.500 km a pé pela ilha de Córsega, em companhia da sua recém adquirida Rolleiflex e ainda em 1932, segue em viagem para o Taiti.
De volta a Paris em janeiro de 1934, Verger reúne seu material fotográfico realizado nas ilhas do pacífico com o intuito de publicar um livro, e para enriquecer a documentação procura o então Museu de Etnografia do Trocadero (atual Museu do Homem), onde conhece Georges-Henri Rivière, vice-diretor do museu. Ao ver suas fotos Rivière propõe a Verger que elas sejam incluídas numa exposição que ali estava sendo preparada sobre as civilizações do Pacífico. São estas mesmas fotografias que darão a ele seu primeiro contrato como repórter fotográfico, pelas mãos do jornalista e escritor Marc Chadourne, a quem havia procurado para escrever uma apresentação para o desejado livro sobre o Taiti. Segue então em fevereiro de 1934 para uma viagem ao redor do mundo, agora como fotógrafo profissional, contratado pelo periódico francês Paris-Soir, uma oportunidade única para desenvolver as novas atividades que o fascinavam em sua nova vida, fotografar e viajar.
Esta viagem dura aproximadamente seis meses e proporcionou a Verger um primeiro contato com culturas completamente diversas, como nos EUA, Japão, Singapura, Somália Francesa e China. Certamente uma experiência que marcaria para sempre o destino do então jovem fotógrafo e sua inserção no campo do fotojornalismo. De volta a Paris, Verger retoma sua relação com o Museu de Etnografia do Trocadero no qual se torna encarregado do laboratório de fotografia, onde teve a oportunidade de conhecer muitos estudiosos que freqüentavam o museu, a exemplo de Alfred Metraux, com quem manteve estreita relação de amizade, além de poder desenvolver, nas horas vagas, seus projetos pessoais. Pierre Verger se tornou um dos fotógrafos mais importantes do século XX, pela trajetória internacional, pelo humanismo presente nas suas documentações fotográficas, e pela atuação na larga fronteira que estabeleceu entre o fotojornalismo, a documentação social e a antropologia visual."
Por Fernando de Tacca
Serviço:
15 de abril a 13 de maio
Pierre Verger: Um Olhar sobre Buenos Aires
Na abertura, dia 14, às 19h, bate-papo com o curador Fernando de Tacca.
Apoio da Fundação Pierre Verger (htpt://pierreverger.org)
Galeria Marta Traba, terça a domingo, das 9h às 18h.
Entrada franca.