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Vilém Flusser é um intelectual nascido no que é hoje a República Tcheca, em 1920, que imigrou para o Brasil no início da Segunda Guerra Mundial. Como outros, fugia da perseguição nazista. Flusser começou a estudar Filosofia em Praga e prosseguiu em Londres, antes de se radicar em São Paulo. Aqui, logo começou a atuar no meio intelectual paulista até tornar-se professor. Iniciou a carreira docente na Escola de Arte Dramática Alfredo Mesquita. Lecionou ainda no ITA e na FAAP. Mas foi na Escola Politécnica da USP que desenvolveu longa carreira ensinando Filosofia da Ciência.
Seus textos no Suplemento Literário de O Estado de São Paulo nos anos 50 e 60 surpreendiam pelo rigor conceitual e originalidade. Ele podia escrever sobre quase qualquer assunto. Um dos seus temas prediletos era a Filosofia da Comunicação. Essa predileção talvez veja do fato dele ter nascido na Boêmia, considerada o centro da Europa, dentro do Império Austro-Hungaro. Este era um arranjo político centenário que articulava várias nacionalidades debaixo da autoridade imperial do rei que ficava em Viena e falava alemão. Flusser era de uma família de origem judia que há gerações fazia a interlocução entre as várias etnias. Ou seja, serviam de intérprete para que o poder central – o imperador – pudesse se comunicar com pessoas falantes de tcheco, esloveno, húngaro, servo-croata, polonês etc. Segundo ele conta, entre seus famíliares, não era raro falar até 10 línguas.
Em 1970, por uma questão burocrática, Flusser não teve renovado seu contrato de trabalho na Universidade de São Paulo. Em 1972, ele decide retornar à Europa. Primeiro, na Itália, depois na Alemanha, e finalmente na França, onde se radicou. Flusser morreu em um acidente de trânsito banal, quando visitava a cidade em que nasceu, em 1991.
Desde a década de 70, quando a mídia se impôs definitivamente nas relações comunicacionais cotidianas, o pensador tcheco iniciou uma cruzada para demonstrar que a tecnologia contribui na abertura de um enorme e novo campo de possibilidades de criação. Além da reflexão sobre a mídia, Flusser desenvolveu importantes ensaios teóricos sobre a linguagem, as línguas e o fenômeno da tradução
Este segundo período europeu foi profícuo em sua produção teórica. Ao contrário de muitos negativistas, para Flusser desvendar, conhecer e operar os mecanismos da tecnologia era uma grande oportunidade aberta a todo ser humano. Pouco conhecido no Brasil, Flusser atualmente é um autor respeitado, estudado e muito citado na Europa, especialmente na Alemanha. Valorizadas por teóricos brasileiros, como Arlindo Machado e Lúcia Santaella, suas idéias são consideradas precursoras do que hoje é conhecido como cibercultura.
Serviço
5 de abril, segunda, das 19h30 às 22h
Mesa Redonda “A escrita de Flusser”
lançamento do livro “A Escrita”, de Vilém Flusser
(Editora Annablume)
Biblioteca Latino-americana Victor Civita.
Entrada franca.