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A Fundação Memorial da América Latina apresenta a exposição coletiva “Miradas Glocales”, com obras de artistas do México. Originalmente, foi pedido a jovens artistas mexicanos que desenvolvessem trabalhos relacionados ao tema do Bicentenário de Independência da América Latina. Ao receber as obras, no entanto, constatou-se que elas tinham pouco das questões sociais e políticas, como se poderia esperar. Os criadores preferiram abordar as formas de resistência contemporânea ao processo da globalização, por meio da integração da cultura local à estrutura globalizante.
Trabalhos que vão desde a fotografia manipulada digitalmente até a cuidadosa pintura ou desenho, revelando que antes de se desvencilharem da técnica, os artistas contemporâneos se mostram cada vez mais envolvidos na aprendizagem e desenvolvimento das linguagens que requerem continuamente técnicas cada vez mais distintas e híbridas.
Entre os artistas, Omar Vega Macotela, Tânia Bello, Emiliano Hernández, Lissete Jiménez, Bricia Navarro, Xanat Ramo, José Rosas e Alexandre Lucatero fazem introspectivas subjetivas e identitárias a partir de uma vivência cotidiana, sua idade, seu gênero e o entorno social do qual fazem parte.
Desde uma perspectiva mais formalista, as obras de Christian Aguilar, Carlos Bernal, Jorge Mustarós, Alfredo Martinéz, Moises Cervantes e Eblem Santana contém uma exploração formal que avalia conhecidas propostas abstrato-figurativas da vanguarda e as redefinem através do desenho, o acrílico, a fotografia ou a gráfica digital.
Já Xcaret Rabadán, Anabel Chino, Joaquin Flores, Carla Ibarra, Jorge Rosano, Dália Ruiz, Juan José Soto, Priscilla Vallejo, Efren Vargas e Verônica Rojas utilizam temáticas que redefinem as classes sociais, as concepções econômicas dominantes, as ideologias políticas, o controle e o uso do poder, a partir de obras com técnicas que utilizam o meio bidimensional em muitas variantes, além do vídeo.
Os trabalhos de Loreley Landeros e Evaristo Lugo são em uma boa medida transgressões sutis, e, em alguns casos ácidas, de forma a entender a sociabilidade, a sexualidade e o poder. A maioria destes artistas tem menos de trinta anos, mas já apresentam solidez em seu processo criador, tanto no manejo técnico como nas propostas conceituais.
Chama atenção o fato de que as manifestações em torno do Bicentenário não chegar a lhes impulsionar o ato criador. Esta exposição é uma espécie de “anti-clímax” das celebrações monumentais e uma evidência de que o que move os artistas desta geração vai além de modismos ou celebrações e se instala em preocupações contemporâneas em permanente diálogo com seus pares em outras partes do mundo.
Daí o neologismo Glocalização remeter à fusão dos termos globalização e localização, ou seja, a presença da dimensão local na produção de uma cultura global. O termo glocalização foi introduzido na década de 1980 como estratégia mercadológica japonesa, inspirada na dochakuka – palavra derivada de dochaku, que, em japonês, significa "o que vive em sua própria terra" , conceito originalmente referido à adaptação das técnicas de cultivo da terra às condições locais…
No Ocidente, o primeiro autor a explicitar a idéia de glocal foi o sociólogo Roland Robertson. Segundo ele, o conceito de "glocalização" tem o mérito de restituir à globalização a sua realidade multidimensiona. Glocal é uma justaposição de uma esfera global a uma esfera local: a partir de um meio de comunicação operando em tempo real (prioritariamente o tempo real do ciberespaço ou o tempo real "live" da televisão) cria-se um ambiente glocalizado, no qual o sujeito se vê imerso em um contexto simultaneamente local (o espaço físico do acesso, mas também o seu meio cultural) e global (o espaço mediático da tela e da rede, convertido em experiência subordinativa da realidade). Sem o fenômeno da glocalização, suporte comunicacional das trocas em escala global, a derrubada das fronteiras para a circulação de produtos, serviços, formas políticas e idéias estaria prejudicada ou impossibilitada…
Serviço
Miradas Glocales
Coletiva de artistas contemporâneos do México
2 de abril a 1º de maio de 2011
Galeria Marta Traba
ENTRADA FRANCA