Com a exposição “Descobrindo Guayasamín”, o Memorial apresenta a obra de mais um “monstro sagrado” latino-americano – o equatoriano Oswaldo Guayasamín – depois de trazer no ano passado “A dor da Colômbia, por Botero”, de Fernando Botero. Guayasamín é um modernista muito valorizado internacionalmente (“Madres y niños”, por exemplo, está na sede da Unesco, em Paris), mas pouco conhecido no Brasil.
É a primeira vez que a obra do artista, falecido em 1999, é exposta em São Paulo, apesar do óleo “Madre y nino” fazer parte do acervo do Memorial (está no Centro de Convenções, antigo Parlatino). Em cartaz de 11 de abril a 11 de maio, na Galeria Marta Traba, “Descobrindo Guayasamín” reúne 31 telas e 20 gravuras do pintor, algumas de grandes proporções, como o impressionante políptico de oito partes (2 x 1 m cada uma) chamado “La Espera”, da fase “La edad de la ira”.
No dia 10 de abril, às 17h, Verenice Guayasamín, filha do artista e vice-presidente da Fundação Guayasamín, estará presente no local para uma palestra. Às 19h, será a abertura da exposição, com estacionamento gratuito e entrada pelo portão 6. Oswaldo Guayasamín é um dos grandes pintores latino-americanos das décadas de 50, 60 e 70 do séc. XX, sobre quem o poeta chileno Pablo Neruda declarou: “Os nomes de Orozco, Rivera, Portinari, Tamayo e Guayasamín formam a estrutura andina do continente”.
Dono de um estilo inconfundível, alimentado pelas vanguardas do séx. XX, Guayasamín bebeu na fonte do muralismo mexicano, do Pablo Picasso de “Guernica” e dialoga com grandes brasileiros, como Portinari. Mas é inegável a influência da tradição milenar da arte pré-colombiana. O resultado é o que alguns chamam de “expressionismo indígena”.
Nascido na pobreza em Quito, em 6 de julho de 1919, filho de pai índio e mãe mestiça, Oswaldo Guayasamín desde os sete anos já expressava sua vocação artística e pintava seus primeiros quadros na tentativa de encontrar uma linguagem própria e pessoal. Realizou a primeira exposição quando tinha 23 anos, em 1942.
A pintura humanista de Guayasamín reflete a dor e a miséria por parte de grande parte da humanidade e denuncia a violência ao homem no contexto conturbado do século XX, marcado por guerras, campos de concentração e ditaduras, usando de seu talento para buscar um mundo mais justo e menos agressivo.
A presença quase constante de dentes e olhos gritando, de ossos e lágrimas em seus quadros intensifica-se na atenção dada às mãos. “Tudo o que sabemos para sermos homens se dá através de nossa sensibilidade nas mãos”, diz Guayasamín como bom artesão-artista que é. O papel que as mãos desempenham como extremidades simbólicas adquire em toda a sua obra uma qualidade emblemática e única. Outra característica visual percebida é o número de rostos que aparecem em suas obras. Há sempre um olhar gritando, assustado.
Em 1976, junto com o filhos Pablo e Verenice, cria a Fundação Guayasamín, por intermédio da qual doa ao Equador todo o seu patrimônio: mais de 4.000 obras, o que constitui um dos legados mais significativos na história das formas e das imagens da América Latina. Já no final da vida, Guayasamín envolveu-se no projeto de construção da Capilla del Hombre (Capela do Homem), uma espécie de catedral laica, na qual o visitante é impactado pela espiritualidade de sua obra.
Embora ele nunca tenha ingressado em nenhum partido político, sempre militou pela paz e por mudanças no continente. Quando Guayasamín faleceu, Fidel Castro declarou: “É uma perda irreparável, porque homens com a sua estatura moral não se repetem. Não podemos admitir que morreu, porque homens como ele não morrem: se multiplicam em seus povos”.
Serviço: Descobrindo Guayasamín
Organização: Memorial da América Latina, em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, e apoio do Consulado Geral do Equador e da Fundação Guayasamín
Abertura
10 de abril (estacionamento gratuito: portão 6)
17h: palestra de Verenice Guayasamín, filha do artista e vice-presidente da Fundação Guayasamín..
19h: vernissage
Período da exposição:
11 de abril a 11 de maio, terça a domingo, das 9h às 18h.
ENTRADA FRANCA.
Fundação Memorial da América Latina – Galeria Marta Traba
Av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, Barra Funda (ao lado do metrô)
Entrada pelos portões 1, 5 e 6
Telefone: (11) 3823-4600