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No telão, uma seqüência de imagens nas quais vão surgindo duas crianças, uma mulher, uma velha e finalmente um cachorro. Eles andam pelo areial de uma praia mansa e deserta. Os pequenos e o cachorro brincam; sentada, a senhora relaxa e a velha rememora. É uma paisagem latino-americana, mas poderia ser o litoral de qualquer lugar do mundo no outono. Alguém aperta a tecla “pause”. O filme foi congelado.
Prestes a ser regidos pelo maestro Lívio Tragtenberg, os músicos em forma de semi-círculo estão a postos. A cada elemento da cena (crianças, mulher, velha, cachorro, areia, mar etc) corresponde um instrumento – violões, tambores, berimbau, teclado, chaqualhos, guizos…
Ao gesto de Tragtenberg, som e imagem começam ao mesmo tempo. Crianças buliçosas que vão sendo envolvidas pelas cordas vibrantes. “Do agudo para o grave”, orienta o maestro quando entra em cena a senhora. O ritmo do tambor predomina quando a velha está no centro do quadro. Aos poucos, outras sonorizações vão compondo o ambiente, como o raspar o pé na areia, o vai-e-vem das ondas etc.
E assim foi o primeiro dia na oficina de música e cinema de Lívio Tragtenberg, ontem, 11 de julho. Ela está acontecendo na tenda montada na saída do Auditório Simón Bolívar, aos olhos de quem quisesse testemunhar o milagre do nascimento da trilha sonora de um filme. “Agora precisamos resolver o final do filme, incluindo a música de fundo quando sobem os créditos”, diz o maestro. “Mas isso ficará para amanha”.
Fotos: Eduardo Rascov