
Quando se pensa na floresta, a cor verde logo vem à mente, mas na imagem de Cynthia Ethel Girardengo é o vermelho que surge com intensidade. A imagem da madeira queimada ganha então força central com todo o seu poder de denúncia. Um quadro, no entanto, nunca deve ser visto apenas por seu conteúdo mais evidente.
O mais fascinante sempre está nas sutilezas, seja no uso das camadas ou nas nuances. Afinal, o grande desafio da arte está justamente no ato de praticar. É no particular processo de pintar que o quadro se realiza como um discurso plástico sempre pronto a surpreender o próprio artista.
Existe em cada obra o misterioso proceder que dá individualidade ao trabalho e cria um certo imponderável no ato de conceber. As indagações se multiplicam, pois a técnica em si mesma não explica tudo. Existe uma dinâmica do fazer que se caracteriza pela colocação de marcas digitais no trabalho.
A convicção de que o assunto se torna um pretexto para o artista utilizar seus procedimentos em nome de uma verdade maior à qual se filia desde os primeiros anos de sua vida até os últimos gera em cada pintura um espaço de silêncios. Observar um quadro, nesse contexto, é vislumbrar um portal a cada pincelada.
Oscar D’Ambrosio