/governosp
A 15 dias de completar 79 anos (no dia 10 de fevereiro) Cauby Peixoto continua mostrando por que tem lugar reservado no coração do(a)s fãs e entre os grandes intérpretes de todos os tempos da música brasileira. No show que encerrou a agenda de comemorações do aniversário de São Paulo, o Professor foi aplaudido de pé, e demoradamente, pelo público de 900 pessoas que esteve ao Memorial da América Latina na noite de segunda-feira, 25.
Merecido reconhecimento: afinal, terminada a apresentação de Cauby interpreta Roberto, ele, com seu inseparável lencinho branco, cantou em versos a Sinfonia Paulistana, de Billy Blanco, sua homenagem pessoal à cidade que fazia 456 anos.
Ninguém arredava pé na platéia. Para quem, lá pelos anos 60 do século passado, já dominava as técnicas de relacionamento com o público, logo Cauby percebeu que não sairia tão rapidamente do palco. Já sabia o que todos queriam. Levantou-se da poltrona e, passeando pelo tablado, cantou a todo pulmão o hino de seu repertório.
Saiu Conceição, Cauby ficou. Na beira do palco o aglomerado de tietes (homens e mulheres) indicava a longeva relação com o ídolo. E Cauby soube retribuir tamanha demonstração de fidelidade com um dos grandes sucessos de sua carreira como intérprete de músicas em inglês. “Só tem dois grandes cantores para My Way. Um deles (Frank Sinatra) já morreu. O outro é o nosso rei Cauby”, dizia um emocionado fã que estava na fila do gargarejo para os camarins.
O show
O repertório com as músicas de Roberto Carlos ganhou arranjos sob medida para o refinado estilo de interpretação de Cauby e valorizou a performance do competente sexteto que o acompanhou: Hanilton Messias (piano), Marisa Silveira (violoncelo), Ronaldo Rayol (violão e guitarra), Marcelo Monteiro (sax e flauta), Eric Budney (baixo) e Nahame Casseb (bateria).
Sem sair do lugar, Cauby foi modulando a voz grave e aos poucos começou a interagir com o público para “explicar” a origem de algumas letras, como em Seus Botões, que ele cantou vigorosamente. A platéia foi ao delírio.
Lá pela metade do show, bem mais solto, foi acompanhado no refrão de Como é grande o meu amor por você. Também arrepiou na intepretação a la tango de Desabafo, que ganhou uma pitada melódica de Balada para um loco, de Astor Piazolla.
Backstage
Só depois que Cauby desapareceu por trás da coxia o público deixou o auditório Simon Bolívar. Nem todos. Pelo menos outras 50 pessoas também fizeram fila para tentar chegar aos camarins, mesmo que fosse só para ver o ídolo. Lá dentro, assessorado pelos fiéis escudeiros Thiago Marques -produtor do CD com as músicas de Roberto Carlos – e Nancy Lara, misto de empresária, secretária, tiete e amiga, Cauby recebe os fãs. Está naturalmente cansado, mas muito mais satisfeito com o seu desempenho. Como um rei que recebe seus súditos, Cauby trata a todos da mesma forma educada, com um sorriso e um obrigado. Uns levam fotos. Outros querem autógrafo no ingresso. E há os que já levavam o CD recém-lançado. Alguns, respeitáveis senhores, se ajoelham ao lado de Cauby para ficar melhor na foto, talvez para insinuar uma certa intimidade quando estiver entre os amigos.
Cantar para grandes platéias, e em palcos como o do Auditório Simon Bolívar, “onde as coisas funcionam”, faz toda a diferença, diz Cauby.
“Ele gostou muito. De tudo”, sussura Nancy, um olho no “patrão” e outro na fila de gente que espera para entrar no camarim. No dia seguinte a equipe confirma com detalhes a opinião de Cauby: segundo Nancy, o bom desempenho dele também tem a ver com o alto nível da equipe de produção do Memorial.
“O Cauby foi recebido e tratado como grande artista que é. Tudo foi realizado em condições perfeitas de acessibilidade, iluminação e acústica num palco espaçoso, além da privacidade e o tratamento nos camarins”. Tal entusiasmo, embora possa parecer suspeito, procede: Cauby só foi para casa mais de três horas depois de terminado o show, já na madrugada de segunda. Ficou nos camarins, contando histórias de sua longa carreira – a memória está a mil – e cantando para um privilegiado grupo de amigos.
É com essa expectativa – de encontrar ambientes e situações semelhantes – que Cauby pretende dar sequência à agenda de shows para grandes plateias. Convites não faltam. “Pelo contrário” diz Nancy. Estamos analisando propostas que chegam de todos os lugares, aqui da capital, de cidades do Interior de São Paulo e de outros estados. E, quem sabe, voltar ao Memorial da América Latina ainda este ano. Faz sentido: os ingressos se esgotaram em menos de duas horas no domingo. Então, longa vida ao Professor!
Daniel Pereira, com fotos de Fábio Pagan